as horas
Todos os dias
as mesmas horas passam por mim
com uma frequência de máquinas
altivas e rápidas, mas eu,
tão pequena e ordinária,
nunca consigo abraçá-las.
Assim, todos os dias
as horas me apregoam um pouco mais
nos mesmos trajetos,
nas mesmas sensações,
nas mesmas gentes,
nos mesmos medos,
nas mesmas canções.
Eu sigo abismada
com o sadismo das horas
em tantas estigmatas --
feitas até mesmo pelo relógio sonolento
com sinais de quem já está arrefecendo
deixando seus ponteiros para trás.
Há momentos
em que respiro com alívio na penumbra
tateando um pouco de paz,
mas meu respirar tem sido muito mais um arfar
como se eu estivesse sempre correndo
levando nas costas um peso de monumentos
quando na verdade o tempo
pesa bem menos que um ponteiro...