Esmolador

Esmolador, eu olho nos seus olhos e sinto neles

que você foi um dia um lindo amanhecer de sábado;

pedra, poeira e chão,

seu ser de margarida, flor de mãe,

estrela de vida, brilho apagado,

parece vergalhões retorcidos entre concretos armados.

Você chora com lágrimas secas, com o pão que lhe dou,

sobre o seu corpo nu que vive esquivando

entre viadutos, calçadas e meios fios,

pobre esmoleiro sem destino,

ultrajado nos semáforos da vida insana que tem.

Esse olhar que vê e sente como gente,

por entre pernadas e abraços,

uma mão estendido, a outra encolhida

para não testemunhar o pecado capital refletido

no rosto que padece, na expressão perdida,

pedindo esmolas nas calçadas e esquinas...

Quando por descuido não entra no bolso o que precisa,

sai com a força de um soco,

furando as nuvens, quebrando a frieza do orgulho,

provocando chuva no seu sertão;

se levanta e sai correndo atrás do clarão do dia

que se esvai na contra mão, todas estendidas,

podre mendigo, que vida!!