QUEM SOU EU?
Pus-me a indagar todas as flores
No meu jardim de inverno, a primavera,
A me esboçar o seu maior sorriso
Ao acaso alaranjado da quimera
A me embriagar, fez-se Narciso
A minha face rubra a tua espera!
Quem sou eu? Em qual planeta
Eu me perdi... se sou poeta!
Pus-me a navegar todos os mares
No meu oceano de ondas gigantes
A me arremessar contra um rochedo
Ao encontro das curvas navegantes...
Pus-me a rastrear todos os sonhos
Minha álgida solidão de muros altos
A me entrelaçar de promessas falsas
Ao cinzeiro vazio dos meus vãos assaltos
As cortinas coloridas que em mim pesa
Suas rendas, seus bordados, meus andrajos!
Quem sou eu? Em qual planeta
Eu me escondi... se sou poeta!
Pus-me a contar todas as estrelas
Uma a uma como se fossem pingentes
Sobrevoando esse espaço sideral...
Nelas, eu atrelei minha carruagem,
Ponto de luz a guiar meu dom astral...
Pus-me a desvendar todos os amores
Que por mim passaram discretamente...
Simulando sussurros de amabilidades
Cortejando-me entre meneios decadentes!
Pus-me a compor todas as saudades
Que fraquejaram diante da minha luz
Quedou pensativo o meu poema...
Entre soluços, calei a voz, ergui a cruz,
Antes que partam minhas algemas
Quero saber: quem sou? Quem me conduz?