Quem inventou o amor

Quem inventou o amor não teve coração

ou noção do sofrimento que causaria a humanidade,

não teve noção do mau que estaria causando

a todos os românticos e apaixonados que vivem

a buscar alguém durante sua existência.

Quem inventou o amor queria na verdade

chamar a atenção para o seu amor próprio,

fecha os olhos para o cair da noite,

para a lua cheia,

para o som dos pássaros feridos,

caídos no vai e vem de suas vidas.

Quem inventou o amor queria chamar a atenção

para os sorrisos escondidos dos poetas

que sofrem por sentimentos não correspondidos.

Quem inventou o amor foram Eles

que adoeceram na vida por vontade de viver,

que perderam tudo, o ideal de busca, fé, caridade...

Quem inventou amor, inventou também a miséria humana,

a ferida fétida, os mendigos que vagam

pela madrugada sem fim,

os solitários das ruas com suas dores.

Quem inventou o amor era egoísta,

preso a sua própria prisão,

sem olhos que poderiam aconchegar,

sem nutrir felicidade por alguém,

sem sentir o perfume da pessoa amada,

sem vislumbrar o carinho envolvente da saudade,

do sentimento, do reencontro, do perdão, do arrependimento.

Quem inventou o amor procurou aprisionar

os loucos em cárceres privados de esperança,

dos corações destruídos por desejos clandestinos

do poder tudo ter, de poder tudo ser,

convencionados pela sociedade;

amor da noite, amor do dia,

sem dizer o que realmente acontecia,

fingindo que passou perto do travesseiro,

solitário no apartamento montado para ser

o ninho de esperança e futuro,

porque existiu um dia um homem e uma mulher

que se descobriram, até tornar-se ábdito...

Quem inventou o amor foi um Deus único,

depois veio a cobra e o destruiu,

tornando eterno o mau benfeitor dos escravos mortais,

roubando e destruindo as chaves que abriram e trancavam

as portas e as janelas deste sentimento, do paraíso

que era sublime e não dor,

e que faz sangrar até a morte.