O CANTO DA VIDA

O canto da vida me fez tinhoso,

ranheta, cabra duro na queda,

do tipo que enverga e não quebra,

do tipo tanto bate até que fura,

do tipo que não morre na praia.

O canto da vida me deixou chão íngreme,

de pele dura, de voz não servil,

de sangue faminto por novas veias,

por novos portos, por novos chegares.

O canto da vida me talhou calejado,

de alma aguerrida, aprumada,

de fé desconfiada, aguçada, atiçada,

de certezas que mal cabiam em mim.

O canto da vida foi mãe e madrasta,

foi chute e âncora,

foi limo e seda,

foi suave e sopetão,

foi paz e breu,

foi gozo e desdém,

foi valsa e tiro,

foi dádiva e troco,

foi fervura e brisa,

foi bênção e maldição.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 26/07/2020
Reeditado em 26/07/2020
Código do texto: T7017538
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