Eu não quero ser poeta.
Quero saber ser sozinha.
Às vezes não.
Às vezes quero estar acompanhada.
Talvez, por saber intimamente,
que verso nenhum me salvará de mim.
Eu não quero ser poeta.
Quero andar por aí e saber dar conta de mim.
Ver o sol e apenas ver o sol.
Não quero sentir nada, além de frio e calor.
Sede, talvez.
Ser poeta é o mesmo que arder
num labirinto de paz.
Eu não quero.
Quero ir para a praia e ver as nuvens,
Apenas ver as nuvens
e tomar banho na água salgada
E voltar para casa.
Não quero ter o dom de ouvir silêncios.
Não quero.
Quero ser simples feito um cisco,
um anel vulgar,
feito tudo o que é simples.
Não quero saber de atalhos
também,
Não quero. Não faz bem.
Quero a leveza de não ter à mão,
nenhum cajado.
Não quero ser poeta
e me ver recortada.
As ideias borbulhando
sem teto e sem chão,
Num mundo que escorrega
no abismo das mentiras.
Não quero compreender de flor
nem de amor,
Nem de tristeza e de solidão,
nem de paz e
nem de amplitude nenhuma.
Nem quero fingir que compreendo.
E que serve a compreensão
mesmo?
Não consigo mais dormir direito,
a poesia me perturba
numa janela, ou na porta;
ou na cadeira,
ou na cozinha enquanto tomo café.
Ouço umas vozes que me embaraçam,
E elas sabem ler
meus pensamentos.
Sinto-me então uma folha em branco,
Pululando palavras ao crepúsculo de
Uma tarde que ainda não chegou.
Estou cansada.
Não quero mais.
Solineide Maria-Sol de Maria
(Outono de 2009)
Inspirado num poema de Fernando Pessoa.