ESTRANHA LIBERDADE
Nessa minha varanda abstrata
Diante duma estranha liberdade
Provisoriamente, navego no tempo...
Que separa o dia e a noite (anestesiados)
No meu limite etéreo de bruma
De um lado a vida me espera
Do outro a morte me cega
Sou metade de fera e anjo
Numa mesma estação do sono...
A enfermidade da alma é doce e amarga
Ao mesmo tempo que cura também mata
Como se estivesse acabado de nascer
Vem do paraíso até a loucura da vida
Chega de olhos fechados apalpando os sonhos
Subo andares e altos muros com asas do éter
Vejo o rosto pálido da vida e da morte
Ambas são transparentes e inexplicáveis...
Nos lábios brancos dos lírios
Suspiro esperando um beijo teu
Que me leve até as nuvens cristalinas
Como as mãos da areia levantando dunas
No meu sonho solitário teu vulto desaparece
E se desfaz nas sombras do esquecimento...
Essas lágrimas minhas são fagulhas
Que nem o vento enxuga, são espumas,
Queimam meus olhos e banham minh’alma
Minhas mãos soterradas buscam as tuas
Falo dos campos floridos que descobrimos
Minha vida andava ao lado da tua estrada
Essa misteriosa estrela que nos seguia
Erguia o olhar para nossa passagem terrena...