FLERTE

Quero o toque das mãos num abraço sincero;

a arte desenhada pelas crianças no sol da manhã cinzenta;

os oceanos mergulhando a acidez do tédio;

o descanso risonho dos pés que respiram sonhos;

os desejos em vertigem na dança dos sentidos a

romper a corrente das prisões nos porões da amargura.

Quero a ternura nas casas, nos prédios, para além dos impérios;

a boca a murmurar sabores na saliva do prazer;

o chiado do chinelo, o casal na varanda da alegria numa tarde bela que nos convida a entrar, com a paz singela do olhar.

Quero o verde da floresta mais amado que a palidez do concreto

a cobrir com véu de esperança o porvir;

a dúvida a nos salvar da ira perigosa da certeza;

o mistério que viceja o encanto do encontro;

a mesa nutrida de saúde;

a virtude da coerência num belo flerte com o diálogo,

para equacionar a balança desigual.

Quero a ilusão enfeitada de confete e serpentina

a colorir sorrisos nas esquinas;

o amor desobstruindo artérias do rancor.

Quero rir de mim mesmo quando a vida emprestar seu bom humor.

Orlando Alves Ribeiro
Enviado por Orlando Alves Ribeiro em 23/07/2020
Reeditado em 06/11/2020
Código do texto: T7014836
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