FLERTE
Quero o toque das mãos num abraço sincero;
a arte desenhada pelas crianças no sol da manhã cinzenta;
os oceanos mergulhando a acidez do tédio;
o descanso risonho dos pés que respiram sonhos;
os desejos em vertigem na dança dos sentidos a
romper a corrente das prisões nos porões da amargura.
Quero a ternura nas casas, nos prédios, para além dos impérios;
a boca a murmurar sabores na saliva do prazer;
o chiado do chinelo, o casal na varanda da alegria numa tarde bela que nos convida a entrar, com a paz singela do olhar.
Quero o verde da floresta mais amado que a palidez do concreto
a cobrir com véu de esperança o porvir;
a dúvida a nos salvar da ira perigosa da certeza;
o mistério que viceja o encanto do encontro;
a mesa nutrida de saúde;
a virtude da coerência num belo flerte com o diálogo,
para equacionar a balança desigual.
Quero a ilusão enfeitada de confete e serpentina
a colorir sorrisos nas esquinas;
o amor desobstruindo artérias do rancor.
Quero rir de mim mesmo quando a vida emprestar seu bom humor.