ENCANTAMENTO

Sem querer adormeci,
adormeci em teus braços
já, agora, maculados
por minhas carícias famintas,
que correm teu corpo, indistintas,
da ponta dos pés aos teus cachos.

O teu cheiro - doce cravo,
povoa o meu sono de sonhos.
Lá vou eu a procutar-te
percorrendo descampados,
torso nú, lábios sedentos,
os pés mais ligeiros que o vento
quando sopra enfurecido,
rodopiando em gemidos
no ar, que se queda assombrado.

Abro os olhos entontecido
sem saber se estás comigo,
sem saber onde é que estou.
Tomo tento, me recobro,
e me descubro em teu colo,
aninhado no teu seio,
completamente refeito,
repleto, farto de amor.

Este amor poderoso e ousado,
tem no fundo um mistério emboscado,
tem no fundo um mistérios escondido:
faz de mim um amante ardoroso,
faz de smim, tão somente, um amigo.


(abril de 92)