A POEIRA DO CAMINHO
O dia ressurge límpido como as águas
vai levantando suas claras vestes
enquanto brinca com as flores
que existe nesse mundo antigo...
No umbral da tarde flutuando de cores
as portas do vento se abrem como espelhos
e teus negros olhos se movem...
Como se guardados em escrínios de seda
(pingentes, filigranas de marfim e ouro)
Tua voz bordando músicas trêmulas no ar...
Teus pés deslizam no verde chão de quimeras
assomam a janela desse dia transparente
entreabrindo seus véus como se fossem cortinas
da aurora. E teu caminho vai sendo pontuado
como as estrelas douradas do céu reluzente...
A poeira dos caminhos jaz em mim...
Por mais que agite com força os cabelos
Por mais que me liberte da minha vestimenta
Por mais que me desnude (corpo e alma)
Essa poeira da estrada estará sempre presa a mim...
Nas míseras lembranças empoeiradas...
Em cinzas e trapos dos mortos jardins
que fez o sol murchar dos muros despidos
tombaram meus sonhos em correntes soltas...
Entre a poeira do céu e da Terra...
existe as janelas despedaçadas
em conventos e ruas estreitas e vazias
o dia se inclina delicadamente
na minha varanda desabitada
procuro por teus negros olhos
escuto tua voz como uma música
busco teus passos na poeira perdida de mim!