a vida sempre renova
queima, queima a língua
e sua vertigem, a vaidade
desvairada, o gemido apertado,
a agonia mais transloucada,
o gesto indecoroso, queima,
queima a raiva vencida, o riso
mal desenhado de tão falso,
queima, mas não queime
as coisas bonitas, as lembranças
de outras vidas, não queima
a toalha florida, nem os bancos
dos jardins, não queime a vontade
de beijar, de ver corpos em sua
nudez mais desejosa, os seios
entumecidos de uma mulher apaixonada,
não queime o sonho de ser, e de saber
mais vontade que preguiça, mais amor
que passividade, mais alegria que a tristeza
mais honrosa, queima o que já não serve,
já que a vida, a vida sempre se renova