Perdida
Não sei onde estou.
Não sei para onde vou.
Não faço ideia do que estou fazendo.
Pego caminhos aleatórios, como eu.
Percebo meus equívocos.
Recuo.
Dou a volta.
Tento um novo caminho.
Esforço-me para olhar mais atentamente.
Caminho muito.
Muito me perco.
Ousada, me lanço.
Tropeço, caio.
Me reergo.
Retomo o caminho.
Me canso.
Respiro.
Não desisto.
Diminuo o passo.
E sigo.
Tenho medo.
Tenho coragem.
Tenho coragem.
Tenho medo.
“Perder-se também é caminho.”: Relembro Clarice.
Retomo o fôlego.
Não paro.
Lembro de Freud, citando Ruckert: "Onde não é possível chegar voando, há que se chegar coxeando."
E me pergunto: chegar onde?
Não estou certa de que haverá um lugar a que se chegar.
Estou confusa.
E por ora, essas lembranças vão me guiando nesses vários quilômetros de nada.
O percurso é árido.
Anseio por uma fonte.
Há de haver mais alguma coisa.
Ainda que seja um rumo novo.
Já não estou certa de que há.
Perdida estou.
Prossigo, movida a não sei o quê.
Algo me diz que ás vezes é preciso se perder, para então finalmente se encontrar.
Me entorpeço com minhas várias conversas e delírios mentais.
Me sinto um nada.
Adentrando vários nadas.
E caminho...
Porque um bom caminhante, pode perder-se no caminho, mas jamais se esquece de como caminhar.