Perdida

Não sei onde estou.

Não sei para onde vou.

Não faço ideia do que estou fazendo.

Pego caminhos aleatórios, como eu.

Percebo meus equívocos.

Recuo.

Dou a volta.

Tento um novo caminho.

Esforço-me para olhar mais atentamente.

Caminho muito.

Muito me perco.

Ousada, me lanço.

Tropeço, caio.

Me reergo.

Retomo o caminho.

Me canso.

Respiro.

Não desisto.

Diminuo o passo.

E sigo.

Tenho medo.

Tenho coragem.

Tenho coragem.

Tenho medo.

“Perder-se também é caminho.”: Relembro Clarice.

Retomo o fôlego.

Não paro.

Lembro de Freud, citando Ruckert: "Onde não é possível chegar voando, há que se chegar coxeando."

E me pergunto: chegar onde?

Não estou certa de que haverá um lugar a que se chegar.

Estou confusa.

E por ora, essas lembranças vão me guiando nesses vários quilômetros de nada.

O percurso é árido.

Anseio por uma fonte.

Há de haver mais alguma coisa.

Ainda que seja um rumo novo.

Já não estou certa de que há.

Perdida estou.

Prossigo, movida a não sei o quê.

Algo me diz que ás vezes é preciso se perder, para então finalmente se encontrar.

Me entorpeço com minhas várias conversas e delírios mentais.

Me sinto um nada.

Adentrando vários nadas.

E caminho...

Porque um bom caminhante, pode perder-se no caminho, mas jamais se esquece de como caminhar.

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 20/07/2020
Reeditado em 20/07/2020
Código do texto: T7011605
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