Menino

apenas um menino.

olhando de fora, ele era apenas um menino

de olhar perdido e expressão hermética.

era mesmo um ser obtuso

já nascido como que pelo avesso.

ninguém diria nada daquele menino

nada de extraordinário

ninguém repararia quaisquer estranhezas

mesmo se fitasse o menino com atenção.

contudo, o menino ardia em questões urgentes.

dentro de sua cabeça haviam himalaias

mulheres birmanesas com longas argolas de pescoço

autoestradas, lagoas, muralhas e tesouros.

dentro dele havia um mundo

sendo descoberto e sonhado.

ele se atrevia a saber

e o que ele não sabia, ele inventava.

as lacunas foram dando lugares à fábulas

e prontamente caixas de remédios e barbantes

tornavam-se embarcações transatlânticas

e coloridos dragões de festivais japoneses.

aquele menino franzino, criança de porvires

na sua quietude aparente,

era um emaranhado de aventuras

de curiosidades, especiarias e brilhantes.

aquele menino, pássaro fora do ninho

se pergunta: depois de voar o mundo,

poderia ele, só por um segundo,

reaver a inocência perdida no caminho?

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 20/07/2020
Reeditado em 27/01/2021
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