Água e Óleo
A verdade é que
cedo ou tarde
todos nós enlouquecemos.
Uns mais, outros menos.
Alguns fazem amizade com a loucura.
Conseguem faturar uma grana com ela, orgias impensáveis, mansões,
respeito, bebidas importadas
e até mesmo, se tornam presidentes de algum país sem memória.
Já outros, riem sem motivo
ou choram diante de espelhos sujos
buscando ser o que não precisam ser,
passam o resto da vida
batendo a cabeça repetidamente em paredes de quartos sem cor
ou em manicômios
tomando remédios,
cuspindo remédios,
e à noite, quando os sentimentos implodem
em suas mentes escarnecidas
e os corações desaprendem a bater,
respirar se torna um fardo
e nenhum deus, arcaico ou sintético
pode salvar esses pobres fragmentos desorientados.
Porém, alguns escapam das mãos que se dizem sãs
e por vezes, vejo essas figuras se arrastando pelas ruas
tomando tragos, contando histórias e recitando versos em espeluncas
que não deveriam ser chamadas de bar.
Esses poucos seres, mesmo presos à desconstrução de suas realidades
conseguem adaptar-se em meio aos que se esbaldam saudavelmente na insanidade cotidiana
e talvez, esse seja o problema.