Solidão

Olho à minha volta.

Portas e janelas, escancaradas,

não aplacam a solidão.

Ruas vazias, silenciosas,

traduzem a lassidão.

As luzes, todas acesas,

incapazes de alumiar o dia, avivam a escuridão.

É que a escuridão vem de dentro,

da alma sensível,

da essência do ser que inunda o coração.

Vem do aperto que se expande,

preenche o peito, mas não consegue sair.

Vem da saudade imensa

que habita o vazio da vida, traduzida em aflição;

saudade de tudo e de nada,

do que se foi e do que não é,

e do que talvez venha depois.

O silêncio impera, frio e pujante.

As angústias e incertezas,

a monotonia das horas,

os dias que passam – tão iguais! –

trazem o medo, velado,

do imprevisível, do incontrolável, do fim.

Os sentimentos, todos em explosão, revelam-se, afinal.

O que se vê é a morosidade dos passos,

a expressão aflita da face,

a débil força do olhar,

o grito inaudível da alma

e, lá no fundo, bem lá no fundo,

uma semente de esperança.

Luisa Garbazza

(Quarentena)

Luisa Garbazza
Enviado por Luisa Garbazza em 18/07/2020
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