Solidão
Olho à minha volta.
Portas e janelas, escancaradas,
não aplacam a solidão.
Ruas vazias, silenciosas,
traduzem a lassidão.
As luzes, todas acesas,
incapazes de alumiar o dia, avivam a escuridão.
É que a escuridão vem de dentro,
da alma sensível,
da essência do ser que inunda o coração.
Vem do aperto que se expande,
preenche o peito, mas não consegue sair.
Vem da saudade imensa
que habita o vazio da vida, traduzida em aflição;
saudade de tudo e de nada,
do que se foi e do que não é,
e do que talvez venha depois.
O silêncio impera, frio e pujante.
As angústias e incertezas,
a monotonia das horas,
os dias que passam – tão iguais! –
trazem o medo, velado,
do imprevisível, do incontrolável, do fim.
Os sentimentos, todos em explosão, revelam-se, afinal.
O que se vê é a morosidade dos passos,
a expressão aflita da face,
a débil força do olhar,
o grito inaudível da alma
e, lá no fundo, bem lá no fundo,
uma semente de esperança.
Luisa Garbazza
(Quarentena)