Viagem
quero te contar tudo o que vi.
quero te falar do sol que me escaldou
do frio da noite que me engoliu;
quero te falar das minhas intempéries
como a água do mar que golpeia as rochas.
escrevo para manter viva a chama
daquilo que o tempo levou.
de modo que não sei ao certo
se sou um escritor viajante
ou um viajante escritor.
ao final de tudo, quero ser lembrado
como um contador de histórias;
tal qual meu avô, de quem herdei fábulas
sobre florestas iluminadas por vagalumes
que só existem em sonhos.
aparte às ficções,
vivi, na pele, duras verdades.
tive portos seguros
e becos escuros;
tive mãos amigas
e gente sem saída.
voluntário de emboscadas:
na minha liberdade absoluta,
estive preso.
quero te contar tudo o que vi.
mas o eu que agora narra
não é o mesmo que viveu;
porque o eu que regressa
não é mais o que partiu.