AS TREVAS DA IGNORÂNCIA - Emília Freitas

É dever nesta hora excelsa

mostrar um sincero pasmo,

saudar com entusiasmo

o sublime pavilhão

onde trabalha ufanosa

como esta cruzada,

que se arroja denodada

em busca da perfeição!!!

(…)

Oh! Quando as priscas eras

atuava a tirania,

todo o povo então jazia

do saber inda na infância:

hoje no século das luzes,

em toda parte se ensina

a rasgar negra cortina

da noite da ignorância.

E a oferenda preciosa

dessa seiva imorredoura

que ora a nação entesoura

nos crânios diletos seus:

com justiça, por direito

igual ao filho do nobre

recebe o aluno pobre

francamente nos liceus

educar na mocidade

a esperança coorte

é assegurar a sorte

da futura geração!

É acender uma lâmpada

nas trevas que envolvem a lama!

É tecer vívidas palmas

com as flores da instrução…

© Emília Freitas

in: jornal “Pedro II”, 1881.

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Emília Freitas (Aracati-CE, 11 de janeiro de 1855 — Manaus, 18 de outubro de 1908) foi uma romancista, poetisa e professora brasileira.

Após o falecimento do pai, a família resolve se mudar para Fortaleza, onde estuda francês, inglês, geografia e aritmética, num colégio particular. Mais tarde se transfere para a Escola Normal, formando-se professora.

Começa em 1873 a colaborar em diversos jornais literários do Ceará como Libertador, Cearense e O lyrio e a brisa, além de outros de Belém do Pará. A maior parte dessas poesias foi depois compilada no volume intitulado Canções do lar (1891).

Um ano depois, após a morte da mãe, muda-se para Manaus em companhia de um irmão, exercendo o magistério no Instituto Benjamin Constant, destinado à instrução de meninos. Em 1900, casa-se e retorna ao seu estado original com o marido, o jornalista Antonio Vieira, redator do Jornal de Fortaleza.

Emília de Freitas participa ativamente da Sociedade das Cearenses Libertadoras, que tinha caráter abolicionista, tendo inclusive discursado em 1893 na tribuna, fato este muito aplaudido e noticiado nos jornais.

O traço abolicionista de sua produção poética, verificado também nas liras de outras poetisas contemporâneas suas, como Serafina Ponte Rosa (1850 a 1923) e Francisca Clotilde (1862 a 1935), tanto confirma a inserção de mulheres nas atividades em prol da libertação dos escravizados, como relaciona a produção literária de autoria feminina à intervenção social, sendo este último movimento empreendido por intelectuais dos três últimos decênios do século XIX, que visavam à modernização do país. Segundo Sevcenko, eles “tendiam a considerar-se não só como agentes dessa corrente transformadora, mas como a própria condição precípua do seus desencadeamento e realização”

Em 1899, sai A Rainha do Ignoto, sua principal obra, a que deu o curioso subtítulo de "romance psicológico". Trata-se de uma trama novelesca absolutamente insólita, marcada por traços ficcionais, que é considerada por alguns especialistas como um dos trabalhos pioneiros do gênero fantástico ou maravilhoso no Brasil. A autora consegue com rara habilidade acomodar o fantástico no plano da regionalidade e promove uma incursão pelo imaginário, chegando até o inverossímil.

Em 18 de outubro de 1908, Emília Freitas falece em Manaus, para onde havia retornado, após a morte do marido.