RECOMPONDO OS CACOS

É como se olhar no espelho quebrado, 

refletindo uma imagem fragmentada.

Luz e sombra para todo lado,

reflito o porquê estou quebrada.

Ele me mostra como, por dentro, eu estou.

E eu, analiso, se é o mundo ou meu interior

Que me sabota a alegria e me causa a dor.

Quem mais responderia no monólogo refratado?

Para não me perder, junto os cacos espelhados.

Caco de vidro, cacos de uma pessoa nele refletida.

Cacos do meu eu, cacos da menina-mulher ferida.

Parecia que estávamos numa sutil controvérsia.

Mesmo quebrado, insistiu em ter uma conversa.

O perguntei: "O que queres mais de mim?

Já não basta ter de lhe catar a cada pedaço?"

Ele silenciava fazendo-me entender o recado.

Tudo isso porque resolvi, por ele, me olhar

Tudo isso porque resolvi, um dia, me olhar

Tudo isso porque me encorajei a enfrentar

O porquê tudo isso permanecia a me cortar.

Cortada por dentro, ferida pelos cacos externos

Sentindo mais dor do que amor, ambos paralelos.

O espelho alertava todas as vezes que me refletia.

Eu a mim negava o direito de me enxergar um dia.

No impulso da coragem, me livrei daquela agonia.

Libertei-me do escape, o cinismo da falsa alegria.

Olhei-me no espelho, daquele que não há por aí.

Encontrei-me no espelho, aquele que há em mim.

Intacto, empoeirado, aguardando o meu olhar.

Tudo isso porque decidi, com amor, me olhar.

Tudo isso porque decidi parar de me evitar.

É como me olhar no espelho belo e quisto,

É como se nunca alguém tivesse me visto.

16/07/2020

02:13h

Maisalobo
Enviado por Maisalobo em 16/07/2020
Reeditado em 16/07/2020
Código do texto: T7007519
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