Toxina

Parece que pensar de dia é melhor que pensar de noite

Devem ser as toxinas limpas durante o sono

A química limpa a realidade do dia anterior

E o dia seguinte se ocupa em sujar tudo novamente

Cada fato ou ato, cada palavra falada ou ouvida

As pessoas na rua ou na mídia, os papeis e as telas

Não sei qual delas me quer bem de verdade

Se for caso de reciprocidade, estamos todos perdidos

No caminho que sigo, não sei se consigo carregar mais alguém

Não pelas pedras ou subidas, mas pelo peso que faz

No momento da descida, que nada pode ser controlado

Eu pensei nas toxinas, porque elas dançam

Bailam nas conexões, nas neurais explicações dos campos

Será que tem jeito? Uma porção mágica de efeito?

Tomar e pensar melhor, reverberando pelo corpo um saudável torpor

Vontade de correr, de abraçar, de viver? Será que farão?

Só sei que se fizer, vai ter pra vender!

Não acredito na dieta da realidade, se o dia faz mal

Como dosar pelo dia, agindo por quantidade?

Esperando que a indiferença do mundo devolva qualidade

Já vi, por Pessoa, Fausto quer tudo que a carne pode ter

Já ví, pelo Gita, que Arjuna não quer morrer

As poesias que li pra não enlouquecer, me fizeram dormir

Quando a noite parecia não ter fim, o dia nasceu e ofereceu

Mais um sonho que se sente na pele, ouça a buzina!

Ouça os gritos da menina, o dia começou, ouça o sino

Bata o ponto, siga a sina, se deixe mais uma vez

Ser inundado pela realidade, e sua insípida toxina!