ESPERANÇA
Recado à vida, depois de 120 dias de quarentena
Esperança de rever os meus amigos,
de abraçar todos os meus filhos,
de beijar os todos os meus netos,
minha mãe e meus irmãos,
de dar boa noite, bom dia, a um estranho,
esperança de ter de volta a minha alegria.
Esperança
de voltar à sonhar,
de ter inspiração mesmo que não chova,
mesmo que não seja noite de lua cheia.
Esperança
de me embalar na rede
sem medo de pensar, sem desespero,
sem pesadelos.
Esperança de sair de casa,
viver de verdade outra vez, é o que eu mais quero.
Esperança
de ser eu mesma, plena,
de sair do meu trabalho e ir admirando
as árvores, ouvindo o canto dos pássaros,
de ser feliz pelas ruas,
de entrar numa livraria, comprar um livro,
tomar um café expresso,
depois chegar em casa, esquecer
do trabalho o estresse.
Esperança... de lhe ver,
e lembrar que um dia quem sabe fui sua.
Esperança e saudade...
Saudade de ir à feira,
de escolher as minhas frutas,
de ir à padaria, escolher o meu pão,
esperança de soltar o vidro de álcool,
minha atual proteção,
ah será que é por castigo,
ter tanta liberdade e me sentir nessa prisão.
Liduina do Nascimento