CHÃO ENFEZOU
Guerreiro às vezes se cansa,
do seu legado, da sua pança,
do seu querer, do seu desdenhar.
Então vem um gosto estranho,
meio mambo, meio atravessado,
que sonolenta a alma,
que enfeia o sangue.
Daí o guerreiro se recosta
e reenvia pra si seus passos,
seus rumores, seus desatinos.
Pensa que a vida enferrujou,
que os anjos empedraram,
que o chão enfezou.
Daí o guerreiro rasga sua dor,
esmigalha sua desilusão,
alivia seu coração.
Então o vento rude se acalma,
o torpor atroz se veste,
a casca dura se desfaz.
Então o guerreiro se acalma,
desarma seus espinhos,
desaflige seu cantar
e volta a viver em luz.