O ÍMPIO - Juvenal Galeno
Vistes o condenado em duros ferros
em seu longo viver triste cruento?
Cavadas faces, olhos macerados,
co’a palidez no rosto macilento?
Seus cabelos cinzentos e tão longos,
os braços descarnados e pendidos,
junto ao fero carrasco, algoz tremendo
apupado dos homens reunidos?...
Vistes vós o raivoso olhar que lança
a turba vil na forca reunida?
Sarcástico sorriso ao mundo inteiro,
o desprezo infernal, que mostra à vida?
Assim era o ímpio no cume escalvado,
no cimo do monte!...
Assim ele olhava descrido e altivo
o vasto horizonte!...
© Juvenal Galeno
in: Prelúdios poéticos, 1856.
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Juvenal Galeno da Costa e Silva (Fortaleza, 27 de setembro de 1838 — 7 de março de 1931) foi um poeta brasileiro, de grande destaque nas letras cearenses.
Filho de José Antônio da Costa e Silva, proeminente agricultor, fez seus primeiros estudos em Pacatuba e Aracati, e cursou Humanidades no Liceu do Ceará, em Fortaleza, formando-se em 1854.
“Prelúdios Poéticos” livro de estreia de Juvenal Galeno, editado em 1856, foi o primeiro livro da literatura cearense, tornando-se o marco inicial do Romantismo no Ceará, como afirmaram Mario Linhares, na sua “Historia da Literatura”, Antônio Sales e outros.
Seguiram-se A Machadada (1860), Porangaba (1861), Lendas e Canções Populares (1865), Canções de Escola (1871), Lira Cearense (1872) e Folhetins de Silvanus (1891), entre outros.
Em 1887 tornou-se membro-fundador do Instituto Histórico do Ceará. Foi ainda Diretor da Biblioteca Pública de Fortaleza, entre 1889 e 1906.
Juvenal Galeno foi um dos fundadores do instituto da Ceará, Patrono da Cadeira nº 23 da Academia Cearense de Letras.
Em 27 de setembro de 1919, aniversário de Juvenal Galeno, era fundado o Salão Juvenal Galeno, com a presença de um numeroso público, composto por escritores, poetas, artistas locais e também por visitantes de passagem pela cidade. Em pouquíssimo tempo, o salão tornou-se conhecido graças às maravilhosas palestras e reuniões que sempre atraiam importantes nomes da literatura cearense, como Dolor Barreira, Euclides da Cunha, Mário da Silveira, Filgueiras Lima, Raquel de Queiroz, Demócrito Rocha, Quintino Cunha, Patativa do Assaré e muitos outros que defenderam suas ideias e sonhos naqueles tempos áureos.