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… esta agenda é de 2015
meu pai iniciou suas páginas
com cálculos matemáticos
em cinco ou seis páginas dele.
… depois eu segui escrevendo
poemas e esboços, rabiscos,
inícios de crônicas, contos…
desenhos insones no escuro
da noite…
e tudo numa rapidez
que transforma
qualquer coisa escrita
num conjunto de
garranchos hieroglíficos,
que nem mesmo EU, decifraria
no dia seguinte…
E isso se faz agora
E isso se repete, agora…
há quase um ano
sem ver meu pai.
Um poema se faz…
***
às três da manhã…
numa pequena livraria vazia
despovoada, evacuada
ao som de um piano
… duma canção que se chama
“Never let me go”,
[de Bill Evans] ah, por favor…
faça o contrário.
Pra mim… sim?
e me deixe com meus …
botões… ao menos por um
tempo, assim
… só.
Finja que se foi
Finja que me deixou
E que me deixou partir
“meu amor”
É tão fácil ser
romântico, quando
na verdade não se
ama ninguém…
… Pois não se faz
necessária a administração
da vaidade, misturada ao orgulho
e todas as “pulsões de morte”
… impulsos da idiotice
… apaixonados.
Apenas eu, me
declarando aos
“impulsos da criação”.
Já fiz versos lindos
de amor…
estando completamente
[quase insanamente] sozinho.
[Água de coco… água de coco
água de coco gelada, hoje comi moqueca
senti falta de Salvador, eis aí… um amor…
roxo, como um olho roxo]
***
E quando a luz do abajur
se apaga antes da poesia
acabar… [uma poesia que
parecia não ter mais fim…]
Ah… eu sinto vontade
de morrer…
sinto vontade de matar…
sinto vontade de correr.
Ah… eu sinto vontade
de andar pelo corredor escuro
sem cair… sem tropeçar
e sem me bater.
Até que no meio
do caminho encontro
no chão, [e que lá deixei
…de pura preguiça]
um controle de televisão
cujos botões, BRILHAM
na escuridão… e me indicam
todo o bendito caminho.