Filho do tempo
Sou um homem do meu tempo,
Vivo por fora,
Morto por dentro,
Sem alma,
Sem calma,
Sem paciência,
Apressado,
Atrasado para a morte.
Perdido em plena luz do meio dia,
Procurando uma saída
Em meio a tantos caminhos;
Atormentado,
Só, na multidão.
De um lado para o outro,
Vai e volta,
Sobe e desce,
Roda e roda,
Girando,
Até perder a consciência,
É tudo que queremos.
Somos mortais,
Queremos esquecer o que somos;
Somos animais,
Ignoramos o que somos;
E segue nossa angústia,
Crescendo como uma criança;
Dor e desespero,
Nos enche,
Em nós transborda.
Sou um homem do meu tempo,
Cheio de desejos,
De sonhos,
De vontade não alcançada;
Esperamos por um milagre,
Queremos que nossa vida faça algum sentido,
Mas sabemos a verdade,
Mesmo assim insistimos em ir à igreja aos domingos,
Nos confessamos,
E oramos,
Pois queremos acreditar.
Esse é o meu tempo,
Passando por mim,
Sobre mim,
Depressa,
Veloz,
Incontrolável.
Eu sou filho do tempo.