Carta à solidão
Olho-me no espelho
Fecho os olhos devagar
vaga visão negra
Prevejo o que há dentro de mim.
Eu sempre quis me esconder
E o fiz por você
És antídoto envenenado
Corrente de prata, navalhas
Cortam até sem permitir
Se autorizo meus vexames
És o mal que não aparto
De perto encontro meios
Em desmistificar meus textos
Pela prisma de teu olhar.
Vagaroso devaneio, és
Pernicioso, vigoroso tens
Alma de desagrado
Sons atenuados
Mentir pra progredir.
Olho-me num lago
O reflexo tem-me pavor
Não é mais o mesmo
Que no espelho meu medo levou.
Abro os olhos rapidamente
Sinto veemente a chama se pôr
Num descabido suor
Que na fronte se espalhou
Eu me oponho ao teu sentir
És tudo junto à mim
Eu bem queria antever
As consequências que me levam até você
Mas se sonho o sonho teu
Os meus se desagastam
Todos esmiuçados e bregas
Frente ao poder que tens em mim.
Me olho no retrovisor
Meus cabelos se movimentam
Meus olhos te seguem por trás
E somos um só.
Quem me dera a harmonia
Do olhar a ti e perceber
Que dentro de mim, solidão, é impossível te deter.