Carta à solidão

Olho-me no espelho

Fecho os olhos devagar

vaga visão negra

Prevejo o que há dentro de mim.

Eu sempre quis me esconder

E o fiz por você

És antídoto envenenado

Corrente de prata, navalhas

Cortam até sem permitir

Se autorizo meus vexames

És o mal que não aparto

De perto encontro meios

Em desmistificar meus textos

Pela prisma de teu olhar.

Vagaroso devaneio, és

Pernicioso, vigoroso tens

Alma de desagrado

Sons atenuados

Mentir pra progredir.

Olho-me num lago

O reflexo tem-me pavor

Não é mais o mesmo

Que no espelho meu medo levou.

Abro os olhos rapidamente

Sinto veemente a chama se pôr

Num descabido suor

Que na fronte se espalhou

Eu me oponho ao teu sentir

És tudo junto à mim

Eu bem queria antever

As consequências que me levam até você

Mas se sonho o sonho teu

Os meus se desagastam

Todos esmiuçados e bregas

Frente ao poder que tens em mim.

Me olho no retrovisor

Meus cabelos se movimentam

Meus olhos te seguem por trás

E somos um só.

Quem me dera a harmonia

Do olhar a ti e perceber

Que dentro de mim, solidão, é impossível te deter.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 11/07/2020
Reeditado em 08/07/2021
Código do texto: T7003112
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