A INÊS - Lord Byron (tradução: Bruno Jacy)
Não rias, se me vês sombrio e pesaroso;
meus lábios nunca mais um riso há de enfeitar;
p’ra sempre te defenda, amiga, o céu bondoso
de um pranto sem consolo um dia derramar.
E vens me perguntar que dor secreta e funda
a flor da mocidade emurchecer me fez?
Ah! Deixa este pesar, que o coração me inunda,
embalde aliviar tal pena buscarás.
O amor já não abrasa, a raiva não me excita,
nem são de glória vã, perdidas ambições,
que fazem-me odiar esta vida maldita
e aquilo a que votei mais fundas afeições.
É triste lassidão, que mata e desencanta
tudo o que posso ouvir, tudo o que posso ver,
mesmo a beleza já meu peito não encanta,
teus próprios olhos mal têm sobre mim poder.
Tenho aquela tristeza imensa, que seguia
o terno caminhar do mísero judeu,
que nada vendo além da negra campa fria,
descanso espera só da morte sob o véu…
Do próprio coração fugir embalde eu tento
e ao mais remoto clima, asilo vou pedir;
vai comigo um demônio atroz — o pensamento,
sempre a me torturar, sempre a me perseguir.
Quantos desfrutam hoje o gozo mais fagueiro,
imersos no prazer, que outrora já gozei!
Dure esse gozo mais que um sonho passageiro,
não venham despertar como eu já despertei!
Minha sorte é vagar, vagar, sem que descanse,
a recordar sem trégua um passado de horror.
Só tenho por consolo o ver que, em todo o transe,
inteiro já esvaziei o cálice da dor.
Qual a dor que me punge? O que tenho sofrido?…
Cessa por compaixão, cessa de interrogar!
O humano coração conserve-se escondido!
Se o desvendasse, o inferno iria revelar.
Tradução: José Carlos Júnior (Bruno Jacy)
in: jornal “A Quinzena”, 1887.
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José Carlos da Costa Ribeiro Júnior (João Pessoa, 24 de julho de 1860 — Fortaleza, 29 de maio de 1896) foi um finíssimo cronista e delicado poeta tendo publicado seus trabalhos em jornais paraibanos, pernambucanos e cearenses. Em Fortaleza, colaborou em O Pão, da Padaria Espiritual, e A Quinzena, do Clube Literário. Obras principais: Estudos americanos e Versos I e II (inéditos) e a tradução de Os sinos, de Schiller.
Poliglota, exerceu o magistério ensinando línguas no Liceu do Ceará e em educandários particulares de Fortaleza. Membro do Conselho Superior da Instrução Pública.
Bacharel pela Faculdade de Direito do Recife, foi promotor público no Recife e no Ceará, chefe de polícia e procurador da Fazenda Provincial, tendo obtido grande destaque na magistratura do interior cearense.
Fundador da Academia Cearense de Letras foi o primeiro acadêmico a falecer, um ano e nove meses depois da fundação do sodalício. Ingressou na Padaria Espiritual após a reorganização de 1894, onde foi o segundo padeiro-mor, adotando o nome de guerra Bruno Jacy. Membro do Clube Literário.