com o estupro da beleza, ri com tanta tristeza
Muitos não veem ou não sabem a diferença entre (re)forma e (de)formação.
Isso é evidente quando não se respeita o imaginário de um povo. O atual momento arquitetônico da Igreja Católica de Biritinga me assusta!!
Me causa medo e angústia!!!
Não consigo entender e nem aceitar tamanha Bizarrice!!!
CREIO QUE NÃO SEJAMOS SÓ ANALFABETOS POLÍTICOS MAS TAMBÉM ANALFABETOS ESTÉTICOS.
PORTANTO, O ANALFABETISMO POÉTICO PERMEIA NOSSOS DIAS!!! TAMBÉM CREIO QUE ESSA CONDIÇÃO DE ANALFABETISMO NÃO TEM CLASSE SOCIAL, CREDO, COR, RAÇA, ETNIA, RELIGIÃO OU GRAU DE INSTRUÇÃO. ELA SE ALASTRA CAUSANDO CEGUEIRA E OUTRAS DOENÇAS MAIS.
Pertencer a um lugar difere e muito do fato de residir. Pertencer a um lugar é sentir afeto e carinho, respeito e cuidado por ele.Ter carinho, respeito, afeto e cuidado não são atitudes que se conseguem comprando aos quilos no açougue ou nas farmácias, supermercados ou qualquer budega. Adquire-se com o tempo vivido e vivenciado através de experiencias - as mais diversas!!
Um lugar faz parte do nosso imaginário por onde formos.Sentir saudades das cores, das texturas, dos cheiros, dos perfumes que esse lugar nos impregnou através de sua gente, do seu povo, de sua riqueza cultural ou artística - é algo determinantemente poético pois nos nutre de beleza - algo que evidentemente determina a qualidade de nossa existência no mundo no qual vivemos.
Nenhuma pessoa civilizada poderá conceber uma reforma da Torre Eiffel (PARIS - França) ou de qualquer outro monumento arquitetônico em qualquer parte do mundo - deformando a suas características. Em nenhum lugar do mundo isso pode acontecer de forma tão verticalizada e agressiva como está sendo a deformação da Igreja de Biritinga.
É assustador tudo o que vi. É vergonhoso tudo o que vi.
Quando não se respeita a razão de ser de cada coisa, se comete crueldades absurdas.
Já entrei e conseguir ver tamanhas deformações. Senti em minha alma que tais deformações mexeram com meu imaginário que foi nutrido através de tantas vivencias aí vividas.
Se se deforma algo externo a nós, se deforma algo interno em cada um de nós também. É óbvio. E essas deformações nos causam dores que não são curadas com injeções ou comprimidos, cirurgias ou curativos. São dores que abalam os nossos alicerces mais sagrados. Pois quando se muda algo de forma grosseira acaba que mexendo com o nosso imaginário. Com o nosso eu sagrado. E ferir o nosso imaginário não há ato mais cruel e medíocre nesse mundo!!! É um ato de grande irresponsabilidade mexer com o sagrado que existe em cada povo, que existe em cada gente, que existe em cada um de nós biritinguenses ou qualquer outra pessoa de qualquer parte do planeta que tenha em si o mínimo de respeito pela existência do outro. É impossível conviver com o outro quando esse outro não respeita nem o outro e nem a si próprio.
Respeitar o outro é respeitá-lo com suas nuances mais belas e cheias de simbologias. O homem é um ser simbólico. E a nossa igreja é um símbolo para todos nós. Destruir símbolos é destruir almas. Destruir almas é ferir o ser humano. É causar hematomas e cicatrizes jamais reversíveis.
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Crescimento e desenvolvimento são substantivos bem distintos!!! O primeiro visa explorar espaço de modo irresponsável sob bases do capitalismo infecundo. O segundo visa explorar espaços respeitando os laços humanos que por ali permearam de maneira efetiva e elementar.
Imaginemos que por falta de cuidado, o Coliseu de Roma(ITÁLIA) a estátua de liberdade (EUA), o Elevador Lacerda (SALVADOR) A Praça Maior - SALAMANCA), sofressem danos decorrentes da passagem dos anos e fosse por nós reformados descaracterizando as suas origens!!! Imagine a Fonte do Champrão (BIRITINGA) sendo reformadas e cobertas de materiais devidamente ecológicos, descaracterizando as suas formas originais !!! E nessa reforma puséssemos algo mais que uma cor original, um bloco ou tijolo ou tirássemos uma porta ou portão - ou seja lá o que for -. uma porta diferente ou colocássemos um telhado de vidro com o discurso que faz parte do modismo da sustentabilidade. Sustentabilidade sem exercermos o verbo CUIDAR, torna-se apenas discurso vazio e insosso, sem graça e pálido, anêmico e infecundo. O verbo cuidar quando não conjugado de maneira elementar, proporcionando a qualquer atitude ecológica, o termo sustentabilidade se torna mero vazio, mera alegoria disfarçada de crescimento doentio e nefasto.
Tirar ou acrescentar uma cor, porta, portão ou tijolo do Coliseu de Roma é ferir o que há de mais sagrado na alma do ser humano - o seu imaginário rico de poesia e portanto de beleza.
Toda e qualquer pretensão maquiada de boa fé torna pretensiosa, desrespeitosa e aviltante.
A deformação da Igreja de Biritinga se faz com a égide de uma pseudo reforma que cala e silencia...mas faz pulsar e inquietar quem tem o minimo de sensibilidade para com os monumentos arquitetônicos de nossa cidade.
Nasci e me criei em Biritinga. 13 anos na zona rural e 13 anos na zona urbana. Estou morando fora há mais de 30 anos.Nesta igreja me batisaram e crismaram. Fiz minha primeira comunhão, participei de grupo de jovem e de um grupo de teatro, participando de varias peças de teatro nesta igreja. Participei das minhas formaturas de 8 série e de magistério.E por fim me casei.
Portanto, está latente na minha alma todas as cenas, todas as cores, todos os cheiros, todos os movimentos tudo que participei me tornando gente e me tornando mais humano. Daí senti saudade de tudo que aí vivi...de tudo que vivenciei.
Nunca neguei as minhas origens. Quando preso num aeroporto em Miami, quando fui encurralado pela policia espanhola numa viagem de ônibus Salamanca - Espanha à cidade de Porto - Portugal, nunca neguei que sou filho de Biritinga. Nas minhas exposições mundo a fora e nas entrevistas que dei, nunca neguei de onde sou e nasci. Negar a sua origem é um exercício pernicioso e aniquilante. Negar qualquer origem é doentio. Qualquer origem negada - seja ela familiar ou qualquer outra é uma anarquia sem fundamentos. Negar a origem de uma arquitetura subestimando-a com discursos vazios - é doloroso.
Não acredito que a nossa Igreja de Biritinga precise passar por tais deformações . Na justifica deformar em nome do novo. Que o novo nasça sem deformar o que é sagrado. Mas o que é o novo ??? Ridicularizar o óbvio???
Então, vamos pintar a igreja de rosa choque, verde-cana, cores fluorescente ou grafitá-la todinha. Ai o novo se estabelecia de forma irracional pois não se estaria respeitando a arquitetura tão bonita e poética. E quando não se respeita tais obviedades, instala o que eu chamo de intolerância.
Não consigo conceber tamanha atitude!! Não consigo entender tamanha grosseria em pleno o século XXI. E não consigo entender as vozes que se fizeram ecoar e que ainda ecoam sem serem ouvidas. É ditadura?? É imposição?? O povo não merece respeito em querer que sua obra magistral seja respeitada nos mínimos detalhes arquitetônicos?
Nada justifica se gastar tanto dinheiro e colocar o novo no lugar do que podia ser reformado e não deformado de forma tão aviltante e ridícula e sem graça.
E não consigo entender as vozes dos que se calam - pois todos bem sabem que o silencio também é um instrumento altamente político!!!
E que neutralidade nunca existiu nem aqui nem no céu e nem nos infernos. Esse discurso de neutralidade é mero exercício de pura covardia.Só os covardes silenciam quando as suas vozes deveriam dar uma abrangência maior
de forma politicamente correta!!
Fico triste!! Fico indignado mesmo sabendo que o meu prestígio em nossa cidade nada vai influenciar. Não tenho nome, não tenho dinheiro e não tenho fama suficiente pra ter prestigio pra influenciar uma situação absurda dessas!
E não creio que fama dinheiro e nome sejam suficientes pra causar tamanha influencia já que a opinião do povo simples da cidade de nada valeu ou está valendo - então o resto de nada vale também!!! Então vale indignar-se!!! Então vale expressar-se!!! Mesmo que os indignados não sejam ouvidos e quando ouvidos, calem-se a contra gosto!!!
Por isso eu ri de tanta tristeza ao ver tamanho descalabro. Ao ver tamanho absurdo justificado de forma aviltante.O que está velho, precisa de reforma, pode-se gastar dinheiro para a reforma e não se deve gastar uma fortuna pra uma deformação medonha, feita de maneira tão ignorante. Só um analfabetismo estético pra causar tanto horror e justificar tando descaso. É muita falta de criticidade que chega a beirar a irracionalidade com alto requinte de crueldade.
Até quando a imposição??
Até quando a falta de respeito?
Até quando a insensibilidade vai imperar??
ATÉ QUANDO???
ATE QUANDO ESTUPRAR A BELEZA SERÁ UM ATO QUE CAUSA TANTA OMISSÃO
ATÉ UM QUANDO UM GESTO TÃO INDELICADO CAUSARÁ TANTA OMISSÃO
ATÉ QUANDO UMA ATITUDE COM TANTA FALTA DE FINEZA GERARA TANTA OMISSÃO
ATÉ QUANDO TANTO ABSURDO?
RAIMUNDO CARVALHO
Artista Plástico e Professor