ÁGUA DE CACIMBA
Quando eu inda era menino
em meu torrão nordestino
não se tinha água encanada;
íamos buscar na cacimba,
era aquele pinga-pinga
em uma lata furada!
Quem possuía um jumento
era menos sofrimento
pro dono, não pro animal;
que conduzia em seus lombos
quatro incuretas, aos tombos,
até voltar pro quintal!
As mulheres bem cedinho
desfilavam no caminho
co' um pote sobre a rudia;
algumas cantarolando
já outras só reclamando
da vida naquele dia!
Mas de tarde tinha um ganho,
era se tomar um banho
com uma cuia de cabaça;
lá tinha um giral do lado
para um banho reservado
dos olhares de quem passa.
E quando a seca apertava
e a cacibinha secava
o povo se reunia,
e com enxadas limpavam
e a cacibinha cavavam
com a maior alegria!
Té surgir água barrenta,
mas não era água nojenta,
depois ficava limpinha;
e as moças, com seus decotes,
a carregava nos potes
pra por em forma e quartinha.
E para onde a gente fosse
não se tinha uma água doce
igual a da cacibinha!
Pra lhe beber, inda brinco,
que igual caneca de zinco
melhor copo não se tinha!
— Antonio Costta