Sono de dentro

Dorme, poeta.

Descanse os joelhos acanhados

na movimentação tediosa de sonhos

esmigalhados.

A cama te espera carinhosamente

como um gato afetuoso

esfregando-se pela frente.

Faz companhia aos pequenos

insetos aventureiros

que esvoaçam sufocados em sua

respiração cortante,

suas adagas esculpidas na garganta

predisposta ao ato final.

Não se acostume com as estrelas

dessa bela noite – mas

também não as despreze –,

elas não lhe ensinarão nada

nem responderão aos mistérios informais

que prendemos no varal da mente...

Elas continuarão imóveis, luminosas,

reinando a pintura do céu e dos dedos enrugados.

Valoriza o sono profundo que te dá

olhos inteiros

para suportar a amplitude do mundo

e suas vidas disfarçadas.

Veste o pêndulo dos dias intocados,

a marcha do desespero continua...

Em breve o sol brilhará direto

em suas pálpebras,

que são de grande valor nessa história toda.

Susto repentino, suor matutino:

é hora de acordar e recolher as lágrimas do menino.