O FARTO OFÍCIO DE VIVER
"Ser ou não ser, eis a questão."
SHAKESPEARE, William. In A Tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca.
Cochichar ao futuro venéreas verdades
um destilar de inventadas falsidades
nalgum sonho ficto: o de sentir
o olor dos dias in natura
sempre ao sol e céu dúbios
fantasias do que poderia ter sido.
O desossar das primícias, o avaro nortear
o embrião que proporá o justo: dizer-se algo
até a medula do verme surdo-mudo – logo esse.
E sozinho gritar pelo gozo de haver sentido
o destroçar de se saber no vício das horas.
Nada mais do que assistir aos estilhaços
do ativo fracasso da autodenúncia
na insípida finitude sem renúncia
dos singulares haveres do farto ofício.
Um nada, um sopro de vento ao solstício
e dois hemisférios saúdam o equinócio.
MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.
https://www.recantodasletras.com.br/poesias/6999216