ENSAIO SOBRE DISPENSAR O PASSAPORTE
Na rua não se vê um pé de pessoa.
Já são quase cinco da manhã...
O sol vem num caminhar de velho.
Nada importa tanto, se amanhecerá o dia ou se firmará infinita está noite.
Nada importa.
Meu maquinário de escrita jogado aos cantos,
papéis e mais papéis de folhas enfeitam o meu açucarado lar.
Nada parece abalar-me mais.
Os fins jaz tão esperados, como numa novela besta.
As luzes são apagadas,
a escuridão do quarto toma minha vista.
Vem luz de buracos de telha.
São trovões a cantarolar lá fora... Presságios não dançam aqui.
A fádiga dessa fábula parece me cercar, e o sol que vem num caminhar de velho.
Questiono os por quês que vestem a tristeza.
Tenho em mim dores que não são minhas
(Digo eu para a moral que me questiona)
Vasculho nas gavetas meus panos de prato para estancar os olhos.
Sim, eu tramo me sabotar.
Eu monto minha refeição... É o preço pelo aprendizado.
Tu és linda tristeza, e uma piada boa.
Feia é a madrugada sem um pé de pessoa.
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FcoA 09.11.2018