Ritual
Risco o fósforo e rasgo a escuridão com uma chama de esperança e poder. Estou despido dos medos e orgulhos humanos, sou mais um e sou único. O pavio queima e a cera derrete junto com o meu corpo que se desfaz, agora sou apenas mente e ate minha mente se dissolve junto com a cera. Sou espírito que paira com a fumaça do incenso, e giro com os meus pés de maneira circular. Três vezes minha mente roda junto ao circulo, mas já não sou mente, não tenho pés então também não sou corpo. O que sou? Serei um espírito que vaga dentro do poder que agora emana aqui dentro? Serei a divindade que aqui chamei? Não sei, nesse momento não importa, as laminas que empunho rasgam o véu e de certa maneira também rasgam a minha carne. Posso sentir a lamina penetrar mesmo não sentindo mais o meu corpo. Posso gritar agora, posso chamar teu nome. A dor aumenta e se expande, não é uma dor ruim. É a dor de ser libertado das amarras que me prendiam, a dor de vislumbrar o conhecimento e saber que aqueles que amo estão tão longe disso. É a dor por saber que as lágrimas de felicidade rolam em meu rosto e mais uma vez sou humano de carne e osso. A dor por saber que tanto te busquei nos bosques, e nas catedrais. Nos parques e avenidas, sem saber que por fim, dentro de mim te encontraria.