QUARENTENA II! (283)
Pela janela, espreito a rua deserta,
É minha triste moldura, mesmo aberta,
Há vida e sol, correndo lá fora,
Estou aqui presa, sem tempo ou hora...
Em minhas mãos, aperto a chave, da porta,
Basta-me um passo, para transpô-la,
Meu espírito, livre me incita,
-Venha, vamos embora, acredita...
-Não há para onde ir, eu retruco,
Há um inimigo lá fora, oculto,
Sem pena, põe o mundo, moribundo,
Traiçoeiro nem diz, de onde, é oriundo...
Fecho lentamente, minha cortina,
Uma lágrima surge, fugaz, repentina,
Na mente a imagem, da minha menina,
Sinto-me frágil, só, pequenina...
O telefone toca, nele ouço a voz, tão amada,
É minha filha, por um vírus, de mim afastada,
Do outro lado da linha, como eu, ela chora,
E meu abraço carente... O dela implora...