Confissões

em tempos sombrios

pragas & pestes

de todos, repulsas

exclusões, desmazelo...

escondemos nossas caras

e suprimimos sorrisos

por trás de cada máscara

e mesmo de cara à mostra

qualquer estampar de siso

se pode ser só uma forja

uma imperceptível farsa...

zilhões de dardos em conflitos

que bombardeiam a minha alma

eu me desvio

e me disfarço...

a todo tempo me buscam

mas eu me auto saboto

do mundo me distancio

não insisto...

eu sinto

eu sinto muito

ter que trancar-me em casa

e me privar do infinito.

quero fugir

pra poder gritar

não tem ninguém pra ouvir...

todos estão presos dentro de si

semeando, em si, seus medos.

e diante desse meu caos

grito em segredo

somente pra mim me exprimo

eu me reprimo

por não querer invasão

pois sei que todos estão

também ansiando um arrimo...

vivo esse horror

das horas que vem e vão

e a mente só piora

nuvens de desolação

me deprimo

e sinto...

eu sinto muito!

me isolo e não peço esmolas.

eu minto

no brilho fosco dos olhos

e em cada morno sorriso

por dentro, por tudo, implodo...

sozinho, parado sigo

meus passos são indecisos

e o pensamento impreciso...

preciso de máscaras

de capas ou de disfarces

de álcool

talvez porres de cachaça

ou de um bom absinto

ou quem sabe um vinho tinto

pra que me mascare a alma...

talvez nesse pós-massacre

sob a sombra da ressaca

eu possa fugir de casa

e possa sentar-me à praça

poder inspirar da graça

e eliminar a depressão

mas isso é quase impossível...

eu sei

eu sinto...

eu sinto muito!

sinto a realidade

mas mascaro minhas verdades

e o que realmente sinto.

de todos que me confundem

me esquivo

e minto

eu minto muito

ninguém vê minha solidão.

talvez partir

embebecido em silêncios

reduza esse meu tormento

e ponha um fim ao meu drama

de viver nesse alçapão.

eu quero

no nada me espelhar

e espero sair dos trilhos

e que me venha um gatilho

pois prefiro me entregar

do que sofrer medo alheio

ou de viver um morto-vivo.