Repensando
No tempo que tenho que ficar/
Aquela vida louca/
De impulsos foi forçada a parar/
Fez da boca uma amordaça silenciosa/
Da pressa um caminhar lento/
Valorizando o olhar/
Ver ângulos, enxergar reticencias e pausas/
Mais do que fomentar a ganância/
Transitando a ânsia de materializar/
Sofrer e lutar por ocupar aquele lugar/
Ser o destaque social, ser o carro ou o capital/
Parece que chegamos ao final/
No entanto sei/
Que antes desse sinal/
Há a consciência/
Bem como antes do fim há evidências/
Ah como envelheci/
Meu Deus, o meu filho está igual a mim/
E a minha filha não é mais aquela menininha/
Que rodopiava na sala, imitando a bailarina/
Há muitos prédios na rua, o igarapé atrás da igreja está poluído/
E as árvores da praça foram todas cortadas/
Sobre as folhas do telhado/
Ouço a solidão das horas/
O poetizar do sabiá, enquanto a chuva cai eu adormeço/
A noitinha, depois da cesta, me aproximei e disse: Meu amor /
E ela, com aquele sorriso antigo/
Me abraçou fogosamente/
Ali, meio que sem jeito, vi que a vida passou depressa/
Como fui esquecer que no amor/
Estão todos os sentidos/
Dessa vida/