A FICHA

A FICHA

( de Eugenio Malta para Marília Rios)

a ficha é uma flecha

quando cai

ou é o cupido em queda sonora

ou é a luz vazando pela brecha

se fora do alvo vai

ou escapa da sua ultimal missão

ou simplesmente a ignora

causando acorde no fôlego do coração

a ficha quando cai é dúbia

ou interrompe o sono

na escada que o descanso subia

aviso de não vá! ida não sóbria

ou ela realiza o sonho

no total da sua ligação

a ficha é tanto negação

quanto é para a realização

a ficha também é o tempo

preso no despertador antes de acordar

feito o intento ainda contido no empo

sem medida do quanto vai demorar

seu compasso de espera é ciente

da metáfora com o telefone público

gap da comunicação cognoscenti

a ficha quando cai é plana num traço cúbico

a ficha não é só o atraso

o ônibus já passou ou ainda não veio

o gancho da lucidez dentro do prazo

é distonalidade do mundo com a intelecção

a ficha é positivo e neutro na conexão

sem a ficha ‘às margens falta a ponte

a beleza é solteira sem o feio

a ficha que cai é enfim água na fonte

a ficha é a singularidade do arquivo

quando cai dentro da pasta faz história

repertório de teses e antíteses, plural quase vivo

sobe em espiral iluminando a memória

a lâmpada da ideia ascende

síntese: a razão finalmente entende

agora, nos dias de semântica da internet

a ficha não mais cai, se converte

a ficha quando cai fecha contato

o peixe morde a isca, rola a festa da cumeeira

o estudante alcanca o diploma, a novela encerra o ato

o cão fere a espoleta da bala certeira

mas a ficha que cai no chão irrita quando tine

o discurso sem audiência é voz sem eco

o voto na urna perdeu o tino

a ficha fora do curso é sem saída o beco

a ficha é diletante, dialética e documental

dúbia na diversidade do diálogo

dominadora se se define duramente logo

diferente se deseja diagnosticar, degustar etc e tal

doi o delírio duradouro da dura demora

densa dúvida domina a delonga detida

é que se o dia cai dentro da noite, lá ele mora

ora, no escuro difícil é achar a ficha perdida

a ficha não é o baú empoeirado

mas cai como chuva ácida sobre o passado

cai entre o campo e a cidade feito Saint-Preux de Rousseau

cai hoje dentro do tempo que já passou

a ficha não é sólida nem somente abstrata

está dentro e fora sem limítrofes

a ficha não bajula e nem destrata

não é mais e nem menos que estas oito estrofes

Eugenio Malta
Enviado por Eugenio Malta em 04/07/2020
Reeditado em 12/07/2020
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