RELÓGIO DUM PÔR DE SOL

Lá longe

Há um sol que ensaia

Sua descida calma e alheia

Aos sucedidos dias.

Todas as trações de vida repousam

Num inverno silente de pássaros.

Tudo soa assustado.

Cachorros de latidos distantes

Ecoam rouquidão nos espaços em vácuos.

Como se gritassem por seus donos.

Os carros da avenida parecem roncar

Ao asfalto surdo e fustigado,

Suas angústias pelas

Rotas que trepidam apenas

Caminhos de mais um dia

Suplantado.

Pelo Planeta

A Terra insiste em oração e redenção.

Graças!

Passeios mansos e vazios

Seguem inóspitos pelas calçadas,

Qual seus andarilhos da vida maltrapilha

A que escoa tal qual o tempo ilógico,

De passagem apressada

Sempre sem trégua e sem direção.

Gasta-se dias como ouro em pó

Soprado aos tornados que passam

E tudo levam de mais caro.

Ruínas se avolumam

Em meio às pérolas aos porcos.

Já os ponteiros da poesia,

-videntes que são do todo-

Fazem sombras de versos perambulantes

Delineados de sonhos que

Cedem ao relógio dum sol

A se pôr no horizonte do que não se explica.

O dia, então, cai no mistério silente

Do seu tão frágil presente!

Badalando na tela do crepúsculo

Toda a vida que passa

Sem deixar vestígios do que foi

No infinito das tantas horas .