Refúgio
A poesia sempre se fez presente em mim,
Mas nunca constante.
Entra e sai quando quer,
Sem cerimônia nem alarde.
Quando a rogo,
Nada.
Mas quando a esqueço,
Ela surge, irreverente, e se faz notar
Como se quisesse dizer que jamais me deixou na mão.
Eu creio que, nesses sumiços,
Ela vaga por aí
À procura de alguém que a perceba.
Passa por entre toda a gente -
Ora ardente e livre,
Ora censurada e reprimida.
Quando não encontra meios,
Muda de forma, fica à espreita,
Ansiando que alguém a note e a admire em algum detalhe.
Ela espera e espera, até que cansa.
As coisas mudaram.
Ela pede calma, mas eles têm pressa,
Já não têm tempo para coisas que não custam.
Despercebida, ela retorna
E encontra abrigo nessa alma descrente
Que também carece de consolo.
Ela sempre encontra o caminho de casa.
Olha-me nos olhos
E, sussurrando, me agradece.
Porque a poesia é oceano,
Requer entrega
E eu me afogo...