Refúgio

A poesia sempre se fez presente em mim,

Mas nunca constante.

Entra e sai quando quer,

Sem cerimônia nem alarde.

Quando a rogo,

Nada.

Mas quando a esqueço,

Ela surge, irreverente, e se faz notar

Como se quisesse dizer que jamais me deixou na mão.

Eu creio que, nesses sumiços,

Ela vaga por aí

À procura de alguém que a perceba.

Passa por entre toda a gente -

Ora ardente e livre,

Ora censurada e reprimida.

Quando não encontra meios,

Muda de forma, fica à espreita,

Ansiando que alguém a note e a admire em algum detalhe.

Ela espera e espera, até que cansa.

As coisas mudaram.

Ela pede calma, mas eles têm pressa,

Já não têm tempo para coisas que não custam.

Despercebida, ela retorna

E encontra abrigo nessa alma descrente

Que também carece de consolo.

Ela sempre encontra o caminho de casa.

Olha-me nos olhos

E, sussurrando, me agradece.

Porque a poesia é oceano,

Requer entrega

E eu me afogo...

Samanta Policer
Enviado por Samanta Policer em 02/07/2020
Código do texto: T6993840
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