Pé de Tamarindo
Pé de Tamarindo
Achei num canto dum porão um papel amassado,
lá, em rabiscos trêmulos, o meu passado
o papel já manchado pelas lágrimas de quem escreveu
e pelo tempo que passou e já me pertenceu,
é lendo lá no papel já rasgado que lembro quem sou,
sou a soma de tudo aquilo, o que restou...
foi tão difícil que tenho medo de ler,
mas preciso pra entender que o que era já passou
sabe, não foi só dor, eu vivi! vivi, lá, meus melhores dias!
era o tempo que o amanhã não existia pra mim
quando subia na goiabeira, no pé de carambola,
rindo no pé de tamarindo, quando corria atrás de uma bola...
eu me escondia, não era das pessoas, era brincadeira,
tá certo que me escondi da fome, muitas vezes...
também me escondi da assombração das ruas frias...
me escondi da morte, tive sorte, não sei se hoje terei...
mas, posso compreendê-la, não tem culpa do destino de levar!
meus pais nunca disseram eu te amo, não souberam,
mas não tenho dúvida quanto a isso...
é lá entre raízes amargas do passado que brotou em mim
a resistente árvore do amor com excelentes frutos de perdão,
compaixão, misericórdia, generosidade e...
na verdade sou um tamarindo, azedinho e doce ao mesmo tempo,
aquela casca aparentemente dura na verdade é muito frágil
mas o melhor de mim está protegido na armadura da semente,
as lições que a vida me deu, a chance de renascer.