Eu vivo sentada num pêndulo que não me pertence

Eu vivo sentada num pêndulo que não me pertence e que tampouco controlo.

É tarefa do Tempo e do peso da Vida

movimentá-lo, mas não de acordo com o que eu quero

ou espero.

Então eu vivo sentada, prostrada, mas ao mesmo tempo

em movimento.

Seguro firme no cabo de bronze e não raramente

fico dependurada no pêndulo.

Às vezes penso que o conflito não é meu,

mas da Vida e do Tempo,

pois que o tempo já tem morada nos relógios e

escolheu um movimento um tanto constante,

um tanto em frente, delegando seus rastros à Memória;

mas a vida não respeita o relógio,

ela não tem hora marcada com nada e

ao mesmo tempo, marca hora pra tudo.

Não raramente vivo num extremo do pêndulo e

isso me faz ruminar e concluir que o meu pêndulo

é só um pêndulo dentre tantos outros,

talvez só um pouco mais (ou menos) sedento.

Raramente passo com leveza pelo ponto central,

raramente paro para pegar um novo impulso --

não tenho essa sorte --

e parar poderia me estagnar.

Apesar de eu só estar, parar no centro,

mesmo que apenas por um momento,

me seria um estado de morte.

Penso que minha maquinaria possui defeitos,

cobiço os trajetos mais lentos, mas não saberia viver

de outro jeito e não saberia me equilibrar

em outros pêndulos.

Antes, por causa da velocidade, chegava desengonçada a todo lugar, descabelada, desajeitada, fugaz,

mas agora que me adaptei a esse pêndulo

se eu chegar do outro lado descabelada, desajeitada ou fugaz

é porque decidi ser desse jeito.

Em minha carne vejo o tempo seguir em frente,

a vida grudar determinada, pedras que já não cortam nada e

um caminho imprevisível que sigo contente.

Parada no pêndulo eu corro, pois que atrás vem gente.

14/06/2020