Chão invisível





Nas manhãs saio cedo de casa, silencioso,
procurando mistério no olhar
daqueles cuja única saída na vida é trabalhar.
Atento estou, oh neles quanta pressa,
fogem da fome, dos murmúrios alheios,
das lamentações e de si mesmos, de seus devaneios.
Fogem da vontade calada e de seus mundos,
sabendo que não bastaria
deixar para trás suas tristes histórias,
que referência levariam em suas covardias
guardadas bem no fundo.
Sou alguém olhando para o chão, sem vê-lo,
quem suportaria se aventurar?
Não é só o cansaço do trabalho das lutas em vão,
melhor ficar nesse banco observando,
arriscar morrer seja do que for, é uma opção.
Olhando a beleza das árvores da rua,
nada mais belo que àquela flor,
não seria inteligente morrer por amor,
tinha que ser um jeito de sumir sem que
ninguém percebesse, ou se lamentasse,
aumentaria as estatísticas.
Não sou pedinte, não quero a sua compaixão,
sou um pensador na vida largado,
não sou conselheiro ou ouvinte,
também nada tenho à lhe dizer gosto do meu posto
aqui na estação.
Sou um velho homem, sou um homem velho,
com um passado, sem futuro, quiçá já tive um coração.
Quero emoção, quero ouvir uma história de amor
que chame à minha atenção...
um poema que me prenda, e me traga de volta,
voltar à acreditar na paixão.
Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 01/07/2020
Código do texto: T6993306
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