Amor? Que é isso?

Amor de poeta é assim,

Para ser grande deve de precisar ser doído.

Deve de ter um quê de trágico.

E um quê de melancolia.

Deve haver de ser grande.

E deve ainda ser mantido em segredo.

O anonimato garante certo requinte a esse tal amor.

E os questionamentos o colocam em xeque.

Amor não parece fazer sentido, se olhado de perto.

Nem olhando de longe, quando pensei nunca ter amado.

E por certo, nunca amei.

Nunca estive neste buraco que agora me encontro.

Neste lugar, onde me lanço feroz e

Rasgo o papel com as unhas.

Onde me expressar é necessidade vital

Onde eu arranco poemas das entranhas

E coloco minhas vísceras através das palavras.

É novo este lugar.

Nova também é a forma que reajo.

Olho para o reflexo no lago negro deste buraco,

Não o reconheço.

Não me parece familiar.

Certamente, tudo foi alterado.

Quanta devastação.

Será isso que chamam de amor?

Será se esse tal amor desfigura?

Entorpece?

Será esse buraco que me engole esse tal amor?

Amor é isso que confunde?

Amor é isso que ama sem ser amado?

Amor é isso que me leva para a cama aos prantos?

Que grita pós gozo?

Que preenche e esvazia, preenche e esvazia?

Amor é isto que dá prazer e depois o nega?

Amor parte em silêncio?

Essa espada que me transpassa o peito, é amor?

Amor é isso que me paralisa, me faz patinar?

Amor tem de ser trágico, para se chamar amor?

Amor é essa música que me canta ao pé do ouvido?

Que é o amor?

A que serve o amor?

Se podes, me diga.

Amor é isto mesmo?

Será amor da ordem da falta?

Amor é isto que nos vunelrabiliza?

Que nos tira do muito e nos leva ao nada?

Que nos resgata do nada e nos leva muito?

Que é o amor?

Se podes, me responda:

Amor existe ou fora inventado?

Amor é isso que abunda,

Depois escassa?

Amor é isso de desesperado?

Será essa angústia o amor?

Amor é isso que despersonaliza?

Depois nega?

Depois acolhe?

Depois anula?

Depois bate o pé e sofre?

Depois não tem depois?

Amor é isso que cala?

Que não se expressa?

Que se mata sem dizer?

Ou amor é isso que grita?

Amor é isso de quê eu me defendo tanto?

Medo é sintoma de amor?

Amor é que nem alecrim dourado?

Tipo erva daninha que nasce e não requer semeadura?

É isso que chamam de amor?

Amor é isso que se questiona em desesperadas linhas regadas a uma saudade sensível?

Amor é isso que deita comigo todas as noites?

Amor é isso da ordem do ridículo que me envergonha sentir?

Amor é essa coisa desengonçada que te pega de calças curtas e te faz uma marionete?

Amor?

Será?

Quê isso então?

Se podes, me diga.

Se podes, me ama.

Se podes, me leia.

Se posso, me lanço.

Se posso, mato o amor.

Se posso, me amo e não carecerei do amor que vem de ti.