o túmulo
um tempo desses visitei seu túmulo.
onde te imaginam misturado a terra.
deixei sobre ele uma flor.
senti o aroma de velas derretidas sobre estruturas sólidas
de saudades e angustias permanentes.
ínfima centelha clareando imensurável lacuna.
a umidade salgada do lugar, merejando desse afligimento
imputado pela singela brevidade da vida,
evapora em silêncio anelante.
com uma prece, seguindo o percurso da lembrança,
costurei sua memória à grama verde, à aparência das árvores.
logo você floresceu por detrás dos meus olhos.
alojou-se nos contornos do meu pensamento.
com sorriso discreto eu te cumprimentei!
longamente debatemos sobre a simetria da dor.
sobre a cede desnecessária pelo imutável onde tudo é transitório.
não é a saudade ou o amor cultivado que dói,
mas esse intrínseco estar sozinho
que nos faz crer que outro ser ou qualquer coisa possa nos pertencer.
e tivemos uma controvérsia quando debatemos
sobre o tempo despendido diante do túmulo.
o tempo vomita o vazio lindo e irracional de todas as coisas.
o que verdadeiramente existe e vive é sempre um númeno.
deixei seu túmulo que talvez eu visite novamente
por causa da grama verde e das árvores.
mas você não está ali, você não morreu.
a morte é só inevitável interpretação de quem fica.