Cadê você?
Num dia qualquer, o corpo sentiu um imenso vazio, na alma ressoou um barulho forte e profundo. Fatigado, tentou preencher a matéria com bolo, doce, café, na peleja de acalentar o que chorava por dentro. O excesso pra tapar, sanar, estancar. Você sabe, sabe que aqueles excessos que escondem uma falta. Que falta? A sua. Pois é. O buraco que antes era pequenino, se torna evidente, lhe lembra diariamente do que a alma sente, denuncia a ausência do que nunca existiu.
Seu corpo pulsa, vibra, sangra, dói, exacerba sentimentos, contorna as bordas do espaço externo e interno, as palpitações são frequentes, todo santo dia, a água que escorre dos olhos delicadamente servem para dar sabor aos dias amargos de tanta dor.
Sinto a sua falta, mesmo sabendo que o seu corpo não cabe no espaço aberto que meu corpo deixou. Do que sinto falta? O corpo que ecoa, transparece aquele buraco sem ninguém solicitar, imaginando docemente que um dia você chegará.
A robustez do corpo sinaliza cansaço, desamparo, solidão, quem enxerga de verdade, vê as entrelinhas da vida, as contingências que são muitas, talvez seja isso, o excesso de tudo, mas falta de você. Nos pensamentos, sempre presente, no corpo, o vazio interroga: cadê você? Falta você, Você falta.