METADES DE MIM (reflexões)
Metade de mim é perfeita,
a outra, nem tanto assim:
parece até meio suspeita.
Metade de mim brilha e reluz.
A outra anda às cegas,
tateando em trevas, buscando a luz.
Metade de mim te acaricia, te deseja.
A outra metade se espuma,
morde, cospe e esbraveja.
Metade de mim oferece flores,
a outra se oculta em espinhos,
não sabe carinhos, nem morre de amores...
Metade de mim é anjo da poesia.
A outra metade não escreve e nem lê:
é um pobre diabo sem fantasia.
Metade de mim é aurora.
A outra é noite fechada,
escuridão se abrindo mundo afora.
Metade de mim é nobre e alta.
A outra metade, pobre,
um pedaço que não faz falta.
(José de Castro, Natal/RN)