EMOÇÕES DÉBEIS
A vida fez da minha caminhada a dois
um passeio solitário.
Nesse melancólico ir e vir, a rotina, o constante ver,
o enebriante cheirar,
deixaram o chão morno e as emoções débeis.
A vida, com seu bafo paralisante,
esgarçou alicerces, enferrujou a paixão,
fez chorar a fé.
Triste cenário de gostos atrozes,
onde o querer-bem virou um requentar rouco,
um trêmulo e inquieto bocejar.
Essa vida, tão hábil no desmatar dos sonhos,
foi cerzindo dissabores mesclados a gostosuras,
foi embriagando gozos outrora ferozes,
foi coalhando alegrias outrora divinas,
outrora tantas.
Talvez o tempo descubra algum atalho
pra reverter essa areia movediça.
Talvez o tempo consiga sacudir o marasmo,
tirar o muito de pó acumulado,
alforriar esse desamor disseminado na gente.
Talvez o tempo se faça impotente pra mudar o placar,
talvez o tempo se diga calado pra limpar tantos encardidos,
talvez o tempo pegue sua pá pra enterrar tudo de vez.