Eu só quero chegar!
Um dia quando criança, me peguei contando os carros numa viagem para o tempo passar, fazíamos isso sempre que viajávamos em família, qualquer feriado, lá estávamos nós com o pé na estrada. A viagem, por vezes era longa, precisava me conter no banco de trás sem fazer barulho, seguindo a regra de “boa menina” que me foi ensinado. Imagine só o desafio para duas crianças, eu minha e minha irmã, com 5 e 6 anos na época, permanecer quietas, vendo o tempo passar velozmente pela janela do carro, enquanto éramos levadas ao destino. É, até que de vez quando dava certo, mas nem sempre, sabe como criança é, impetuosa.
Enquanto meu pai dirigia, ocasionalmente, a gente dormia, bastava o balanço da primeira curva na estrada, o sono chegava, às vezes cantávamos, novamente o cansaço batia, começava a questionar a cada meia hora se faltava muito pra chegar, acredite, era uma importunação inocente, eu só queria chegar no destino, seja ele qual fosse.
Crianças são persistentes quando desejam alguma coisa, ô se são, a pergunta seguia competindo com o barulho do vento que passava pelos vidros abertos: “Falta muito pra chegar?”
Eu só queria chegar, era pedir muito?
Paciência nunca foi o forte do meu pai, ninguém é perfeito, nem mesmo ele, tão jovem tendo que lidar com que a nossa insistência pra responder quantos km restavam até o ponto final. A sugestão dada por ele era sempre a mesma, “contem os carros, quando vocês perceberem daqui a pouco estaremos lá”.
Lá íamos nós, eu e minha irmã, contando os carros por cores, por modelos, por categorias, por muitas vezes perdemos o cálculo, voltávamos a dormir, o que era talvez, um alívio para meus pais.
Desde pequena o tempo me intrigou, convocou a pensar, a olhar em volta, perceber as mudanças aparentes, na ânsia de que transcorresse o mais rápido que pudesse, às vezes não conseguimos acompanhar, a gente só vai, é levado.
O tempo, que eu queria que tanto passasse, finalmente varou como um cometa. Eu, que só queria chegar, fazer o tempo parar, talvez, porque sentia saudade de casa, e muitas vezes não desejava ir, era levada.
Me mover sem desejo me doía, e ainda dói, faz o meu tempo passar mais devagarinho quase parando de vez, me entende?
Eu só queria chegar… chegar não sei onde, não sei quando, não sei porque.
Decerto, uma coisa aprendi com minha doce criancisse de passar o tempo, de contar os carros no caminho, o tempo, ele passa, e o que o restará dessa passagem só caberá ao depois.
Quando será? O tempo dirá. Eu só quero chegar.