a força da fraqueza

meu silêncio não sabe morrer

diante das vozes cortejando a desesperação do meu povo.

meu silêncio é mais forte

que a noite barulhenta e persistente

desse otimismo trôpego que não enxerga o seu beco.

meu silêncio é verbo morto e não pode

despertar nas mães, seus filhos que se perderão

antes mesmo de nascerem.

meu silêncio é demasiado obscuro

para fazer ver que as sementes dos campos de batalhas

germinam em solo privatizado induzindo nossa vontade.

meu silêncio testemunha o sonho marginal

suportando todos os dias úteis.

escorrem pelo metrô, se espremem na condução,

andam depressa sobre as calçadas e a lama.

meu silêncio experimenta a escassez de horizonte,

a ilusão do domingo, da dignidade,

mas não sabe elucidar essa miséria operária

materializada em sorriso e orgulho.

meu silêncio se curva em cada esquina.

abafa minha angústia.

todos estão com seus rostos vestidos de espera.

o que tem sido a alegria do meu povo

além de sorrirem essa indefinida espera?

meu silêncio é fraqueza poderosa.

melopeia inabalável do medo.

vapor estúpido e covarde.

meu silêncio é uma algema antiga e sutil.