EMBRIAGUEZ

me embriago com a dança de folhas secas

em alto e belo voo,

sem paradeiro,

sem endereço,

sem direção

como pétalas de flores ao chão,

sem pretensão,

sem vaidades

mas com os cheiros das madrugadas

incrustradas em seus átomos

dos grãos de areia a refletir a luz da lua, nua, aflita,

esquisitamente bonita!

do canto dos grilos que enfeitam as noites frias de verão

dos sorrisos sem causas... apenas sorrisos

do cheiro de mato verde em caatinga na primavera

com a dança dos passarinhos a riscar os ceus

com suas cantigas a tostar as tardes de solidão

de gotas de orvalho a fertilizar sementes do cotidiano

como feitiço de fruição

da quintura do amanhecer a se rebelar em novo dia

a rasgar o tecido da coragem de ser ontem...

semente dos agoras

de mirar tecidos de casa-ninho

de aranha poetisa

que desvenda seus mistérios

em fortes versos com fios de segurança,

herança que desvenda

os horrores de porões e subsolos

esquecidos e submissos aos logicismos retos e rotos

de paixões racionalistas

que apagam e desaguam

em desperdícios

me embriago com o sorriso das flores

com os cheiros de terra molhada, arada de esperança

de rastros tortos e incertos a preencher meus desertos

e como vabagundo compor meus caminhos.

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 25/06/2020
Reeditado em 16/05/2021
Código do texto: T6987266
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.