EMBRIAGUEZ
me embriago com a dança de folhas secas
em alto e belo voo,
sem paradeiro,
sem endereço,
sem direção
como pétalas de flores ao chão,
sem pretensão,
sem vaidades
mas com os cheiros das madrugadas
incrustradas em seus átomos
dos grãos de areia a refletir a luz da lua, nua, aflita,
esquisitamente bonita!
do canto dos grilos que enfeitam as noites frias de verão
dos sorrisos sem causas... apenas sorrisos
do cheiro de mato verde em caatinga na primavera
com a dança dos passarinhos a riscar os ceus
com suas cantigas a tostar as tardes de solidão
de gotas de orvalho a fertilizar sementes do cotidiano
como feitiço de fruição
da quintura do amanhecer a se rebelar em novo dia
a rasgar o tecido da coragem de ser ontem...
semente dos agoras
de mirar tecidos de casa-ninho
de aranha poetisa
que desvenda seus mistérios
em fortes versos com fios de segurança,
herança que desvenda
os horrores de porões e subsolos
esquecidos e submissos aos logicismos retos e rotos
de paixões racionalistas
que apagam e desaguam
em desperdícios
me embriago com o sorriso das flores
com os cheiros de terra molhada, arada de esperança
de rastros tortos e incertos a preencher meus desertos
e como vabagundo compor meus caminhos.