E AGORA, POETA?

E AGORA, POETA?

Raymundo Cortizo Perez

E agora, poeta?

sem nome

sem sobrenome

com marca

sem marca

os sonhos

dos loucos

os poucos

das mãos

das minhas mãos

mãos vazias

vazias

do poeta

da felicidade

a felicidade

felicidade

que não é do poeta

a infelicidade

da infelicidade

da fidelidade

a infidelidade

a felicidade

da idade

a cidade

da cidade

das vitrines nos olhos

os olhos

a ceia dos porcos

dos porcos

os porcos

a ceia

a teia

ateia

E agora, poeta?

onde estão os teus sonhos

os sonhos

dos sonhos

o cansaço

a fadiga

a pedra

o caminho

de figuradas buscas

das buscas

buscas

metáforas

metamorfoses

métricas

rimas

a quadrilha

o mundo

o coração

coração

ação

são

asas

anjos

E agora, poeta?

da abençoada face

do martírio do enlace

o lance

do romance

lace

o enlace

enlace

o amor em caos de sonhos

do amor

caos de sonhos

caos

sonhos

mãos

lábios

palavras

lavras

escravas

bravas

cravas

gravas

o

fim

do fim

o fim

E agora, poeta?

os dentes

os óculos

a barba por fazer

no sorriso triste

triste

na triste face

a tristeza

da vida

a vida

vida

numa fotografia amarelada pelo tempo

a vida dura dos dentes

tridentes

intransigentes

os tiradentes

entre os dentes

os dentes

dentes

e agora, poeta?

a tritura nos lábios

os lábios

lábios

sábios

os sábios

o teu olhar de sempre

sempre o teu olhar

o teu olhar

o olhar

olhar

sem olhar

com olhar

o silêncio

do silêncio

no silêncio

do mar

o mar

mar

o ar

ar

amar

desarmar

a madrugada

da madrugada

E agora, poeta?

percorrendo escadas

escadas

escalas

calas

falas

da vida cansada

vida cansada

cansada

a vida

vida

nas escadas cansadas

nas esquinas

esquinas

ruas

avenidas

praia

um banco na praia

solidão

na calada da noite

na noite calada

calada

noite

bordéus

cinemas

boates

clubes

Deus

Deus?

Deus...

E agora, poeta?

não se perturbe

perturbe

não se inspire

respire

inspire

pire

a rima

que rema

que ruma

pra roma

roma

não se ame

se ame

ame

desame

se der se apaixone

se apaixone

apaixone

a poesia nossa de cada dia

dia após dia

todos os dias

de cada dia

a nossa poesia

dia após dia

não é uma flor nascida

o asfalto

do asfalto

não é uma flor plantada

é uma flor brotada

flor

bordada

amor

do meio

no meio

do asfalto surgiu

ensanguentada

de sangue

do sangue

sangue

sangre

e agora, poeta?

sem tremer nos passos

os passos

os passos lentos

lentos

os passos

espaços

os espaços

passos

medidos

não temer nos trilhos

não temer

tremer

não tremer

nos passos que se alongam

alongam os passos

dos compassos

nos compassos

traços

embaraços

laços

tem rima

não tem solução

ação

Pouco importa

Nada importa

tereza está morta

gira o mundo

giramundo

na multidão abalada

abalada a multidão

perdida no quintal da vida

no aço da poesia

do verso de ferro

das frutas

a melhor fruta

a fruta do amor

amor

do amor de mãe

mãe de amor

mãe é amor

o poeta abalado

abalado o poeta

o poeta...

é o pelé da poesia

e agora, poeta?

é agora Drumonnd...

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Raymundo Cortizo Perez
Enviado por Raymundo Cortizo Perez em 24/06/2020
Código do texto: T6986737
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